quinta-feira, 17 de abril de 2008

Alberno Sonhador

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Alberno,
homem sonhador,
conhecia a importância do amor...
Morador do agreste,
zona mórbida do nordeste,
trabalhava noite e dia
para ganhar sua mixaria
e sem poder contestar!
Se viu como escravo,
e ao inves disso,
decidiu se civilizar.
Deu cantiga e fez festa
ao ver que seu trabalho de cobre
de tempos atrás na mãe floresta
gerou-lhe dinheiro nobre
para uma passagem de trinta dias
em direção ao sul
e mais uma casa de pobre
no municipio Barra do Rio Azul.

Depois de muito sofrimento
causado por raios, fome e vento,
chegou em terras gaúchas
e percebeu o movimento da cidade
que parecia em inerte dia de bruxas
e começou a duvidar da suposta verdade.

Cultura era cara...
Tinha pouco dinheiro para ver
os esculpidos em carrara
E o arrependimento foi bater
na porta do pequeno sonhador
que encontrou sua salvação
em um humilde pastor.

Pastor Assunção,
poderia ser chamado de 'irmão',
falou ao Alberno
contos sobre o céu e o inferno,
contendo batalhas colossais
entre o diabo e os nossos ancestrais.
Batalhas travadas em nome de Deus
mostrando falta de fundamento
na teoria dos Ateus.
Adquirido conhecimento,
do Senhor, Alberno virou refém.
Aprendeu a rezar e a dizer Amém.

Manhã chuvosa,
segurava o seu pão.
Cara gulosa
que queria o perdão
de quem esqueceu a sua infancia
entre planicies nordestinas.
Arrependido de ganancias
e de procura por novas sinas.
Caboclo armado,
com olhar perdido pelo tempo,
pediu um trocado
para o descosolado Alberno.
Sem poder argumentar,
depois de ouvir um 'Não',
caboclo atingiu nordestino
perto do coração.
Segundos eram horas
enquanto gritos irradiantes
penetravam na sua mente
e pensamentos perturbantes
sumiam lentamente.

Quem diria!
Sair do sertão
em direção à cultura
e parar no grande portão.
Portão dourado
jazia sobre as nuvens
e uma voz ao lado
chamou a atenção.
'Identifique-se',
disse o Anjo.
Voz rude,
sem compaixão.
Não era essa voz de Anjo
que ouvia em canção.
'Sou Alberno,
cidadão trabalhador.
Viajei por sete cantos,
injusto eu sentir esta dor.'
'E quem disse que a vida é justa?'
Disse o Anjo ao rapaz.
'Fico neste portão o dia inteiro
deixando entrar almas que querem sossego
e não um capataz.
Se és trabalhador,
o que fazer aqui?
Dê meia volta e até mais.'

Trabalhador confuso
sentiu-se um intruso
em frente ao portão do paraíso.
Nada é perfeito,
disse a si mesmo,
e quis conhecer a entrada do abismo.
Voz bela e feminina
na entrada do inferno,
o fascina.
Alberno disse
'eu conheço seu jogo desleal,
finges fazer o bem
mas quer meu mal.
Não caio no seu truque,
criatura sombria,
só vim visitar-te
e dizer que nunca farei parte
dessa sua orgia.'

Homem desnecessário
para o sobrenatural,
Foi mandado de volta
para o seu corpo em pleno funeral.
Levantou-se do seu caixão e
explicou para a multidão
'Nem todo Anjo
é adorável como parece.
E tome cuidado!
Ou sua alma,
no mau, apodrece.'

Pela influencia da sua voz,
o povo decidiu desembolar alguns nós.
Revolução ocorreu
e o sangue dos seus ouvintes
escorreu.
Nada mudou.
E como sonhador,
conhecido Alberno ficou.
Cantiga do nordeste
que começa no Agreste
diz aquilo que te intimida:
A realidade é fria
mas não é para ser temida.
Assim dizia Alberno,
O homem que percorreu o céu
e o inferno.

(Guilherme Reis Holanda)

Um comentário:

Tereza Abranches disse...

Muuuuuuuuuuuuiito boa!!!!
Demais mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!