quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Mito da Responsabilidade

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É nessas horas que procuro me mudar de corpo.
É nessas horas que eu nao encaixo dentro de mim.
No esquecimento das minhas partes responsáveis, quase ambicioso, guardo minhas emoções.. cultivo como flor, colho com malícia, divido com outrém.
Das minhas lágrimas virei refém.
Me pergunto lamentavelmente à que me resumo nos meus dias de máquina, e dentro de mim arma o conflito: em qual dos meus mundos quero a longo prazo viver?
no que digo e expresso o que penso, ou no que é meu dever?
Rasgo essa pele que me cobre. Mofada. Ao mexer nos fungos, eles iniciam o mal-cheirar.
Fora da carapaça respiro fundo, tento responder
essa pergunta que no conflito só se deixa perdurar.

E assim termino tal poema, com fome, insatisfeito.
Depois de tanto tempo prendendo tal pensamento, mesmo que eu o escreva, mesmo que eu o grite, mesmo que eu o destrua com o tempo, nao consigo afastá-lo do meu peito.


(Guilherme Reis Holanda)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

a cabra e a zebra

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Foi numa cidade do interior,
dessas que quase ninguem ouve falar,
que rolou esse tal momento deturpador..
botaram uma cabra e uma zebra pra brigar!

estavam envolvidos a zebra e seu domador
que já não tinham muito o que conversar..
a cabra, pelo seu desumilde pastor,
lutou por que ele nao tinha como a divida pagar!

..mas a história feriria sentimentos
se a cabra e a zebra fossem ouvidas..
se olhavam, cada uma de um lado esperando os momentos
que pudessem se encontrar nas suas vidas!

foi entao que chegou o dia do confronto
e os dois animais um bocado ofendidos
ficaram parados se olhando no mesmo ponto
enquanto seus donos estavam aflitos.

o sol se foi, a noite veio
e assim foram anos sucessivamente.
a cabra nao atacava a zebra e a zebra tinha receio
do que a cabra tinha em sua mente..

foram-se anos até que a zebra caiu
e com um baque forte marcou a grama no chão..
a cabra imóvel de repente sucumbiu
em absoluta e extrema imutável solidão.

a história verdadeira que ninguem sabia
é que os dois animais peludos se amavam..
e naqueles anos travaram uma conversa por telepatia
e a morte levou o amor que entre si eles nao escutavam...


(Guilherme Reis Holanda)

domingo, 5 de setembro de 2010

Conto, Deuses e Natureza

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...Era assim que contavam as histórias mitológicas:
o plano dos homens representa o material
o plano dos Deuses representa o astral
e separados assim, vivem em perfeita harmonia..
os Deuses em sua dimensão, assim digo,
batalham com feras indomaveis e nos protegem do perigo
destas feras invadirem nosso plano algum dia...

O Deus do trovão e seu justiceiro martelo
não se dão o direito de descansar por um momento..
por toda eternidade enfrentam a furia do movimento
dos Colossos de Gelo. Um infinito duelo.
A geada que é feita pelas tais aberrações
seria capaz de transformar a vida num esquecimento..
Mas nao sofremos desse tormento
Pois o tal Deus os extermima com o martelo e com canções.

Um outro Deus eficiente no seu trabalho de defesa
é o que controla a vontade dos mares...
construindo, de água, pilares e altares
auto-afirma sua soberania sobre a presa.
Luta em geral contra monstros marinhos e tritões.
Rege a lenda que já matou um polvo gigante à grito..
o seu tridente serve pra gerar um forte atrito
com aqueles que nao oferecem seus perdões.

E assim funciona o plano celestial.
campos de batalha extensos até o horizonte
são aonde os Deuses destroem bem na fonte
qualquer tipo de criatura contra a lei terrestre..
Elementais, dragões, vormes e quimeras,
Gigantes, colossos, lulas e outras feras,
São exterminados como peste..

...Mas muito não se entende sobre as malicias do mal
e lá nas profundezas do reino celestial
existe a presença de tais artemanhas...
Não se sabe por que houve tal rebeldia,
mas o Deus do fogo, da trapaça, de pele fria,
começou com certas atitudes estranhas...

Os Golens de Magma era seu dever dilacerar
mas percebeu-se que de um tempo pra cá
o seu trabalho não era feito com eficiência..
o Deus de fogo planejou e construiu uma alcova infernal
de Golens de Magma pra invadir o plano material
e acabar com a raça humana e sua demência..

A chuva de meteoros começou de madrugada
E eu sentado ali numa escada
só ouvi os estrondos causados pelas colisões...
Enquanto eu tentava entender a situação
sairam dos meteoros uma legião
de monstros em brasa do tamanho de galeões.

O fim do mundo estava anunciado
enquanto eu observava ali parado
os colossos pulverizavam toda a civilização.
foi quando se ouviu mais um barulho insurdecente
e por mais que explicar eu tente
sairam todos os Deuses de dentro de um furacão.

As essências da natureza se afloraram pelos cantos diversos
Senti-me conectado ao mundo, senti diferentes universos
Sendo aglutinados pra derrotar o inimigo mortal.
Com a combinação dos elementos,
água, fogo, terra, raios, ventos..,
O Deus do fogo e seus Golens de Magma tiveram seu leito sepultal.

E assim termina a história que contei.
Fiquei assustado, comprei outra casa, me mudei,
Não sentaria mais naquela escada com a mesma importancia...
Vendo assim o trabalho dos Deuses no outro plano
percebo o que todo mundo acha engano:
nós não somos nada. somos de extrema insignificância.


(Guilherme Reis Holanda)

sábado, 4 de setembro de 2010

Fogos da Babilônia

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o café,
a cerveja,
o trabalho,
a fome e a insônia.
E todos vendo os esfolantes fogos da Babilônia.
a mulher,
a cereja,
o orvalho,
o haxixe e outras drogas com amônia.
E todos admirando os escaldantes fogos da Babilônia.
a TV,
o estudo,
o jantar,
o sexo e a nossa transformação errônea.
E todos cegos aos brilhantes fogos da Babilônia.
o dever,
fracassar,
se matar,
responder e morrer de vergonha.
E todos bestializados com os inertes fogos da Babilônia.


(Guilherme Reis Holanda)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

aos mendigos

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lembro daquelas manhãs iluminadas
em que passo na Primeiro de Março olhando as estruturas..
eu vejo inumeros quadros sem molduras
como fotos esperando pra serem tiradas!

As manhãs chuvosas também têm sua beleza.
Pessoas se vestem diferente...
Não há um turbilhão enfervecente..
Enquanto na livraria um café é posto na mesa.

..e toda essa beleza edifícica!
nem a razão e nem a física
explicam essa atração atipica
pelo centro da cidade...

os letreiros, os prédios, os cartazes a colorir,
os carros, os passos, os vendedores a ebulir
sempre me darão uma resposta;
não importa o tempo,
não importa a hora,
não importa a idade.


(Guilherme Reis Holanda)