quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

à dilacerada corda

.
.
Logo tu, mizinha!
Logo tu que és tão simplória!
Rompeste o caule;
perdeste o jeito bailarina de dançar..
Desabracei-te pelas raízes-pernas.
Senti falta da fada que és pelas cavernas
que os tons mais graves insistem em adentrar!


(Guilherme Reis Holanda)

Fogo - Mística Deusa Criatura

.
.
Fogo, mística deusa criatura
Te vejo enfervecente, digna de moldura.
encandecida, danças e reluzes
num singular canto celeste e tribal.
Modulas. Ebule, esquenta, frita,
escalda, derrete e liquifica.
dá forma pro que hoje conheço por mundo real.

Quantas histórias foram escritas
até o homem manusear o que tu és?
Quantas histórias foram ruídas
por livros e pessoas que arderam aos teus pés?

Há muita poesia dentre os dedos de Nero
e tantas outras que falam da quentura do inferno.
Sucumbistes navios, fábricas, cidades, matas e corações..

Destrói e Recrias.
Sintonizas na natureza;
és do ciclo fadado a transformar as criações.


(Guilherme Reis Holanda)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

.

"uma eterna porta entre-aberta."

.
.
a gente cresce,
a gente nota..
se prova..
se aprova!

O momento do riso..
O momento dos lábios..
Vez em quando, o da dor!

..E o dos lábios de novo!

Procurei a escrita (que tanto usas!)
pra tentar explicar nossos momentos..
Admiro suas virtudes, suas crises, suas curvas..
A sua maneira de pensar dos ferimentos!


E descobri o quanto que não se dizer..
Esse sentimento que nenhum homem conseguiu no papel por!
eu falo de ser verdadeiro amigo,
de ser um verdadeiro amante..
de viver um verdadeiro amor!

você é minha eterna porta entre-aberta!


(Guilherme Reis Holanda)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

no jardim

.
.
sentei no meu jardim..
achei inspiração na natureza!
que beleza!
a lua de lado sorriu pra mim..
retribui o sorriso e aceitei a companhia!
o morcego q ia e vinha
fazia sons pra se achar..
junto aos outros sons, ouvi a musica no ar!
uma flor caiu e desceu bela até o grama
aonde haviam outras vivendo algum drama
por na arvore nao estar..
senti o vento passar devagar..
um barulho à esquerda me entreteu!
o que será que faz tal barulho nesse breu?
nao o temi, para ele nao me temer
e o barulho do tal bicho começou a crescer!
pelas coisas em sintonia,
espero que nenhuma mal me açoite!
descobri um sentimento que eu tinha:
não temo as criaturas da noite!


(Guilherme Reis Holanda)

domingo, 3 de outubro de 2010

irmã da vida

.
.
"É na clareza da mente que explode a procura de um novo processo",
e justamente por eu não pensar o inverso
que te escrevo esses versos tortos!
estava eu à alguns anos atrás
procurando uma beleza nas coisas que a vida leva e trás
quando te olhei com meus olhos quase mortos!

estranha sensação de simpatia eu senti..
você quieta, meio esquisita até.. sentada ali
ja tinha herdado minha total confiança!
e depois de um tempo, com as nossas conversas,
comecei a juntar todas as peças:
nascera uma amizade mais intensa que de criança!

oportuna época foi a que se uniram nossas emoções:
corremos à galope na pista das evoluções!
meu cavalo preso ao teu. no mesmo ritmo à cavalgar..
costumo dizer que cada poema tem um clima
mas esse aqui não sei nem por que tem rima..
o que importa é que é pra ti, Clarear!


(Guilherme Reis Holanda)

emsana

.
.
estava ali, eu, indefinível.
perdido e me achando dentro da tal mata fechada..
sentado ali, eu, desprezível.
sentindo o gosto, o cheiro e a cor da pura água..
descidi me aventurar.

subi o fluxo do rio.
um escorregão ali, um outro desvio..
como criança, estava eu aprendendo a andar!

o segredo da caminhada foi olhar pro chão.
cada pedra um desafio:
pensava na força, no modo, no equilibro de se pisar com precisão
enquanto isso, continuava a subir o rio..

calmamente, uma por vez, fiz a minha estrada.
volta e meia eu encontrava uma pedra complicada
mas elas mesmas me diziam o que fazer na situação..
usei do meu corpo tudo que podia.
a água já nao era mais totalmente fria.
da natureza, aprendi a ser um animal de estimação!


(Guilherme Reis Holanda)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Mito da Responsabilidade

.
.
É nessas horas que procuro me mudar de corpo.
É nessas horas que eu nao encaixo dentro de mim.
No esquecimento das minhas partes responsáveis, quase ambicioso, guardo minhas emoções.. cultivo como flor, colho com malícia, divido com outrém.
Das minhas lágrimas virei refém.
Me pergunto lamentavelmente à que me resumo nos meus dias de máquina, e dentro de mim arma o conflito: em qual dos meus mundos quero a longo prazo viver?
no que digo e expresso o que penso, ou no que é meu dever?
Rasgo essa pele que me cobre. Mofada. Ao mexer nos fungos, eles iniciam o mal-cheirar.
Fora da carapaça respiro fundo, tento responder
essa pergunta que no conflito só se deixa perdurar.

E assim termino tal poema, com fome, insatisfeito.
Depois de tanto tempo prendendo tal pensamento, mesmo que eu o escreva, mesmo que eu o grite, mesmo que eu o destrua com o tempo, nao consigo afastá-lo do meu peito.


(Guilherme Reis Holanda)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

a cabra e a zebra

.
.
Foi numa cidade do interior,
dessas que quase ninguem ouve falar,
que rolou esse tal momento deturpador..
botaram uma cabra e uma zebra pra brigar!

estavam envolvidos a zebra e seu domador
que já não tinham muito o que conversar..
a cabra, pelo seu desumilde pastor,
lutou por que ele nao tinha como a divida pagar!

..mas a história feriria sentimentos
se a cabra e a zebra fossem ouvidas..
se olhavam, cada uma de um lado esperando os momentos
que pudessem se encontrar nas suas vidas!

foi entao que chegou o dia do confronto
e os dois animais um bocado ofendidos
ficaram parados se olhando no mesmo ponto
enquanto seus donos estavam aflitos.

o sol se foi, a noite veio
e assim foram anos sucessivamente.
a cabra nao atacava a zebra e a zebra tinha receio
do que a cabra tinha em sua mente..

foram-se anos até que a zebra caiu
e com um baque forte marcou a grama no chão..
a cabra imóvel de repente sucumbiu
em absoluta e extrema imutável solidão.

a história verdadeira que ninguem sabia
é que os dois animais peludos se amavam..
e naqueles anos travaram uma conversa por telepatia
e a morte levou o amor que entre si eles nao escutavam...


(Guilherme Reis Holanda)

domingo, 5 de setembro de 2010

Conto, Deuses e Natureza

.
.
...Era assim que contavam as histórias mitológicas:
o plano dos homens representa o material
o plano dos Deuses representa o astral
e separados assim, vivem em perfeita harmonia..
os Deuses em sua dimensão, assim digo,
batalham com feras indomaveis e nos protegem do perigo
destas feras invadirem nosso plano algum dia...

O Deus do trovão e seu justiceiro martelo
não se dão o direito de descansar por um momento..
por toda eternidade enfrentam a furia do movimento
dos Colossos de Gelo. Um infinito duelo.
A geada que é feita pelas tais aberrações
seria capaz de transformar a vida num esquecimento..
Mas nao sofremos desse tormento
Pois o tal Deus os extermima com o martelo e com canções.

Um outro Deus eficiente no seu trabalho de defesa
é o que controla a vontade dos mares...
construindo, de água, pilares e altares
auto-afirma sua soberania sobre a presa.
Luta em geral contra monstros marinhos e tritões.
Rege a lenda que já matou um polvo gigante à grito..
o seu tridente serve pra gerar um forte atrito
com aqueles que nao oferecem seus perdões.

E assim funciona o plano celestial.
campos de batalha extensos até o horizonte
são aonde os Deuses destroem bem na fonte
qualquer tipo de criatura contra a lei terrestre..
Elementais, dragões, vormes e quimeras,
Gigantes, colossos, lulas e outras feras,
São exterminados como peste..

...Mas muito não se entende sobre as malicias do mal
e lá nas profundezas do reino celestial
existe a presença de tais artemanhas...
Não se sabe por que houve tal rebeldia,
mas o Deus do fogo, da trapaça, de pele fria,
começou com certas atitudes estranhas...

Os Golens de Magma era seu dever dilacerar
mas percebeu-se que de um tempo pra cá
o seu trabalho não era feito com eficiência..
o Deus de fogo planejou e construiu uma alcova infernal
de Golens de Magma pra invadir o plano material
e acabar com a raça humana e sua demência..

A chuva de meteoros começou de madrugada
E eu sentado ali numa escada
só ouvi os estrondos causados pelas colisões...
Enquanto eu tentava entender a situação
sairam dos meteoros uma legião
de monstros em brasa do tamanho de galeões.

O fim do mundo estava anunciado
enquanto eu observava ali parado
os colossos pulverizavam toda a civilização.
foi quando se ouviu mais um barulho insurdecente
e por mais que explicar eu tente
sairam todos os Deuses de dentro de um furacão.

As essências da natureza se afloraram pelos cantos diversos
Senti-me conectado ao mundo, senti diferentes universos
Sendo aglutinados pra derrotar o inimigo mortal.
Com a combinação dos elementos,
água, fogo, terra, raios, ventos..,
O Deus do fogo e seus Golens de Magma tiveram seu leito sepultal.

E assim termina a história que contei.
Fiquei assustado, comprei outra casa, me mudei,
Não sentaria mais naquela escada com a mesma importancia...
Vendo assim o trabalho dos Deuses no outro plano
percebo o que todo mundo acha engano:
nós não somos nada. somos de extrema insignificância.


(Guilherme Reis Holanda)

sábado, 4 de setembro de 2010

Fogos da Babilônia

.
.
o café,
a cerveja,
o trabalho,
a fome e a insônia.
E todos vendo os esfolantes fogos da Babilônia.
a mulher,
a cereja,
o orvalho,
o haxixe e outras drogas com amônia.
E todos admirando os escaldantes fogos da Babilônia.
a TV,
o estudo,
o jantar,
o sexo e a nossa transformação errônea.
E todos cegos aos brilhantes fogos da Babilônia.
o dever,
fracassar,
se matar,
responder e morrer de vergonha.
E todos bestializados com os inertes fogos da Babilônia.


(Guilherme Reis Holanda)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

aos mendigos

.
.
lembro daquelas manhãs iluminadas
em que passo na Primeiro de Março olhando as estruturas..
eu vejo inumeros quadros sem molduras
como fotos esperando pra serem tiradas!

As manhãs chuvosas também têm sua beleza.
Pessoas se vestem diferente...
Não há um turbilhão enfervecente..
Enquanto na livraria um café é posto na mesa.

..e toda essa beleza edifícica!
nem a razão e nem a física
explicam essa atração atipica
pelo centro da cidade...

os letreiros, os prédios, os cartazes a colorir,
os carros, os passos, os vendedores a ebulir
sempre me darão uma resposta;
não importa o tempo,
não importa a hora,
não importa a idade.


(Guilherme Reis Holanda)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

conto do vigário

.
.
Como de costume, saí para minha caminhada noturna. Eram vinte e três horas. Ainda no apartamento, botei minha camisa amarela, minha calça surrada, meu sapato velho, meu casaco de calda longa e dei comida para os meus cães e gatos. Quando abri a porta, senti a brisa mórbida da cidade nas minhas entranhas. Nos becos, ouvi estupros, assassinatos e roubos. Nos bares vivi a bebida desconcertante. Nos apartamentos eu imaginei pessoas sonhando. Apenas sonhos. Como pode ver, hoje não teve nada de novo pelas ruas. Dói saber que banalizei estes absurdos.

Toda noite, enquanto observo a insanidade da nossa raça, eu leio os cartazes pregados nos postes desta cidade: Videntes, oficinas de carro, fretes, prostitutas, empréstimos, procura de animais perdidos... Faz anos que me preocupo com o último destes itens. Passo semanas procurando o mesmo animal para devolver ao seu dono. Nada neste mundo deveria ter a oportunidade de assistir à nossa podridão. Preocupo-me principalmente com gatos e cães, pois as aves podem sumir. Já os animais que não possuem um lar, eu os acolho.

Mas esta noite foi diferente. Depois de vinte e três anos vagando pela escuridão, dirigindo a minha palavra somente para animais irracionais, esta noite precisei conversar. Eu não agüentava mais a angústia de ter a escória de todos guardada somente para mim. Disquei um número aleatório no meu telefone residencial que não era usado todos esses anos. E impressiono-me como você, estranho que está me ouvindo, não desligou o telefone e me ouviu atenciosamente. Não vim trazer-te pesadelos. Apenas vim trazer-te a verdade. Obrigado pela ajuda.

O procurador de animais desligou o telefone. Levantou-se do sofá mofado e dirigiu-se às suas crias. Eram no total vinte e três criaturas. Em seus olhos, via-se a gratidão que eles tinham pelo procurador. Com a face demonstrando o cansaço de viver, o velho homem deitou na sua cama de trapos, desejou não ter nascido e adormeceu para acordar no seu próximo dia de desespero.

Distante de lá, paralisado em seu assento, estava um nomeado executivo, refletindo sobre o monólogo que acabara de ouvir no telefone...


(Guilherme Reis Holanda)

a última passeata

.
.
... E era uma daquelas tardes em que não se sabe se o centro da cidade ferve pelo sol ou pelos passos.
A horda juvenil tropeçava pelas ruelas fazendo o turbilhão girar mais rápido do que o normal. Quem os via na rua não entendia o propósito de tal passeata. Seus olhos olhavam os vazios.
Na cabeça dos jovens andarilhos, o pensamento conflituoso sucumbia: Será que tal atitude valerá a pena? Não estarão aqui para ver o resultado. Fariam tal ato balançando na corda que, ao cair para esquerda, morria-se por ideais. Á direita, por descrença do mundo.
Quando todos se posicionaram na praça movimentada, atrapalhando a rotina dos demais, um carro com caixas de som circulou o local e estagnou do lado esquerdo dos manifestantes.
A cidade parou para assistir.
Do carro, saiu um rapaz, subiu no porta-mala com um microfone na mão. Sem demorar, se pronunciou:
- Boa tarde. Desculpe o transtorno no seu calmo dia, apesar de ser esta minha intenção.
Mais olhos pararam para assistir.
- Dirigindo até aqui, me perguntei muitas vezes se faria sentido essa nossa manifestação... Acho que sim. Depois do meu desgosto por tudo, não consigo me calar, e pretendo dar o último grito de rebeldia contra as banalizadas, cansativas e repetitivas injustiças feitas pelo mundo.
Houve uma pausa. Junto à lágrima no seu rosto, era notável a sua insatisfação por estar discursando sobre dores tão desconsideradas. Puxou uma arma de sua calça.
- Sem mais. Aqui, quem se pronunciou foi Alberto Silveira, 22 anos.
Apontou a arma para sua cabeça e espirrou gotículas de sangue pelo ar.
Naquele instante, o mundo se calou. Todos os mortais que estavam ali presentes visualizando a cena ficaram sem reação.
O jovem mais próximo do carro agarrou o microfone e não demorou a puxar uma arma de seu bolso.
- Silvio Teixeira, 17 anos.
Apagou-se.
Prosseguiram, Ana Marta de 28 anos, Luis Guilherme de 18, Frederico de 20, Gabriel, Ernesto, Fernanda, Luiza, Hélio, Anas, Beatrizes, Lucas e Caios dentre muitos outros mais..
Um após o outro, sem espaço de tempo para se pegar de volta o fôlego, os jovens se deitavam forçadamente no pavimento.
As pessoas berravam, corriam e choravam avistando tal chacina de suicidas juvenis.
Uns desistiram, outros soluçaram. Quase duas centenas de mortos em menos de meia hora.

Curiosamente, o final de tarde sujou o céu de vermelho. Depois houve outro final de tarde. E outro, e outro, e outro e outro..
O objetivo da passeata foi cumprido. A atenção foi ganha.
Depois da remoção dos corpos, depois da chuva lavar as ruas, depois de uma estátua ser erguida pelo movimento dos jovens inconformados, o centro da cidade nunca mais foi tão idêntico como sempre.


(Guilherme Reis Holanda)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O sabor amargo das frutas doces

.
.
numa bucolica vila do interior
isolada do resto das coisas habituais,
rolava certa tradição estranha.
tradição herdada de ancestrais.

ao amanhecer do quinto dia de um sentimento,
enquanto as arvores dançavam com a musica do vento,
uma moça formosa abriu a porta de sua casa.
estava lá, uma cesta escostada no chão
de morangos. representando a paixão
de um jovem que fervia de amor em brasa.

certo boato já dizia
que aquela velha com a casa vazia
recebera uma podre maçã.
de acordo com a lenda da cidade,
foi pra alertar os moradores da verdade:
há muito tempo que a velha não era sã.

o abacaxi tambem era comum aparecer na porta
sempre seguido de um belo e raivoso grito.
grito dado pelo homem que encontrou a fruta torta
significando que na cidade ninguem o acha bonito!

E assim seguiu a tradição por gerações.
uvas, peras, kiwis e melões
tinham o proposito unico de dar um aviso em especial.
cuidavam-se todos pra nao receberem tal presente.
só quem recebera sabia a frustração que se sente
ao achar uma fruta na entrada do seu quintal.

foi dai que começou a historia realmente:
ninguem sabe quem mandou a fruta naquele dia..
foi deixado na porta do pastor um maracujá com caroço de semente
sinalizando que sua amada reviveria!

estupefato com a tal fruta exibida
o padre sabia que só Deus, o maracujá podia ter enviado
colheu laranjas que representavam a vida
e destribuiu para todos os lados.

o povo sem saber a historia bem contada
ja foi inventando uma desculpa pra isso tudo.
achavam que o padre sinalizara as laranjas da vida
por que planejava ressucitar os mortos pra todo mundo.

O dia da ressurreição tão esperado
só não chegou tão de pressa quanto a noticia que o padre milagres faria.
e depois que a sua mulher havia do tumulo levantado
o povo queria a sua parte da profecia:

"onde está a minha mae viva novamente?" o pobre perguntava
"e os meus filhos?", um outro indagava.
o pastor tentando se explicar, disse que havia distribuido laranjas por alegria.
mas suas palavras haviam sucumbido com os ruidos.
as pessoas já vinham com cacos de vidros
e sua palavra de mais nada valia.

com a mesma intensidade de uma espera de onibus no ponto
os cacos de vidro foram exatamente de encontro
com a existencia do padre e de sua mulher.
os dois foram tão avidrejados
que a unica coisa que sobrou deles, ali parados
foram os calçados rasgados que vestiam no pé.


(Guilherme Reis Holanda)

sábado, 31 de julho de 2010

elas

.
.
me mortifico;
vejo graça naquilo que antes não havia necessidade.
me divirto;
lembro do que diziam:
entenderás assim que chegar a uma tal idade.

em mim, conflito;
não sei se elevo ou se afundo.
então, reflito;
me sinto quase à sete palmos
mas também por cima do mundo.


(Guilherme Reis Holanda)

versos frustrados

.
.
existiria algo mais mortal
cruel
que a falta da criatividade?

uma forma de se expressar,
particularmente,
acho que cada um tem que alcançar
pra não morrer tropeçando no meio-fio da cidade.

em um ato de desespero
boto meia duzia de palavras trocadas
frias
nesse pedaço de papel.

tenho medo de me calar.
tenho medo de nao estar lá
quando for necessário que eu mande um grito alto lá do céu.


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

intantâneos sentimentos

.
.
Era um meio cigarro fumado,
jogado no chão, apagado,
sujo com uma marca de batom.
Me perguntei de quem seria tal artemanha.
Me invadiu uma sensação estranha.
Me veio um sentimento bom..
Como poderia ter tanta ternura
Se, usando tal produto, só imagino uma mulher impura?
Seria por causa, da cor dos lábios, o tom?
Segui sem conseguir ouvir o som da estrada.
Dessa mulher, sei absolutamente nada.
Mas me encantou com meio cigarro fumado,
jogado no chão, apagado,
sujo com uma marca de batom.

(Guilherme Reis Holanda)

2010.2

.
.
estava eu andando por uma dessas florestas de galhos retorcidos.
como flores, se penduravam idéias e sonhos esquecidos.
me pus a observar.
a tristeza me incendiava por não vê-las florecer..
me briguei, me bati, me fiz entender..
não era aonde deveriam estar.

surgiu se esquivando das pontas agudas
um macaco desses que ouve histórias pelas mudas
e de tudo sabe um pouco. se pos a explicar.
me explicou em uma dessas linguas intendiveis por bom senso
que os sonhos e as idéias não estão ali para o que eu penso.
estão penduradas apenas pra eu me recordar.

foi daí que eu percebi a que arvore ele se referia.
eu, caminhando ali, perdido na tal floresta fria,
via e recordava dos sonhos e idéias. em mim, começaram a aflorar.
a árvore da vida está dentro de nós.
é preciso colher as sementes importantes e dar-lhes voz
pra destacar o rastro de primaveira que deixamos ao caminhar.


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Torto Flamejante Mágico Voador

.
.
..é sempre em clima festivo
quando a fogueira ata a noite
e as risadas, sem que se note
vão formando um calor,
que uma pobre vitima donzela
que é levada até uma cela,
é enforcada sua goela
pelo torto flamejante mágico voador.

bizarrices desse mito
transitam por cantos mais!
é sempre o vento que leva e trás
a noticia de um outro ataque avassalador..
seu alvo são cidades pequenas.
vilarejos.. bonitas camponesas, apenas.
horripilantes são as lembranças das cenas
do ataque do torto flamejante mágico voador.

músicas e cantigas ao seu respeito foram feitas.
umas ameaçadoras e outras bem perfeitas!
o pavor desde então se espalhou pelas colheitas
por onde caminhava o boato repreendedor..
conta-se até a história da amiga da filha do padeiro
que é sobrinha dum amigo do ferreiro
que depois de viajar o mundo inteiro,
foi dilacerada pelo torto flamejante mágico voador.

sendo assim, nao se sabe se é pra rir ou pra temer
essa história inusitada que, ao meu ver,
nao fez sentido algum para o leitor..
cuidado e sempre fique atento!
não se sabe até onde é real ou invento,
pelo menos, não até o momento,
a história do torto flamejante mágico voador..


(Guilherme Reis Holanda)

domingo, 20 de junho de 2010

libertai-vos!

.
.
curioso sentimento foi esse que se desfez..
depois de muito tempo foi todo embora de uma vez!
juro que nao entendo como que essas coisas mundanas são..
num instante,
o importante.
no outro momento,
perde a razão.

pra não dizerem que sou convencido
digo até o que não devia:
procuro nos seus olhos de brilho
(e não no brilho dos seus olhos)
a formula antiga estigmada,
em que se equacionava a minha paixão de mania.

sumiu entre o suor e a poeira!
sinto-me livre do pesado grilhão que me envolvia.
espero que isso tudo vire piada num bar!
.. não me esqueço:
fomos grandes amigos, fomos grandes irmãos algum dia..


(Guilherme Reis Holanda)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

uma noite tal

.
.
reparo nas histórias por entre meus dedos.
vivi, cresci
(e que haja ambiguidade nesse verbo!)
nessa noite calma e clara
aprecio a luz elétrica entrando por entre o quarto escuro
reluzindo na taça de cristal..
giro a taça,
sorrio ao vinho tinto!
..esse novo quarto,
veio em novos ares,
marcando uma nova vida.
..e minha alma grita, mesmo sem entender,
os versos de strawberry fields forever,
strawberry fields forever,
strawberry fields forever..

enquanto isso espero o sono me acabar
ou qualquer outra mensagem chegar...


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

vinhetamor

.
.
a diferença é sutil:
uma mulher que se cuida tem a vida amorosa que quer.
um homem que se cuida tem a vida amorosa que pode.


(Guilherme Reis Holanda)

sábado, 29 de maio de 2010

ao passaro que aprendeu a voar:

.
.
me encomoda o silêncio perpétuo do teu quarto.
me recordo de coisas do teu quarto,
me reflito de coisas do teu quarto,
me dominam as coisas do teu quarto,
me acomoda o silêncio perpétuo do teu quarto.

e a porta perpetuamente entreaberta.


(Guilherme Reis Holanda)

terça-feira, 25 de maio de 2010

versos desequilibrados

.
.
Nessa mescla de integridade e degeneração,
nao sei como me classifico.
se sou domador:
impositor e fraquejante;
ou como leão:
feroz e subimisso.


(Guilherme Reis Holanda)

domingo, 23 de maio de 2010

.

.

destorcitose

.
.
foi nessa noite fragorosa,
em que implorei o abrigo de uma triste companhia..
negado, eu apertei o espinho da rosa
enquanto sua seiva jorrava em minha face e a rosa sorria.

outrora quando fui cravo
e, embaixo de uma sacada, com a rosa, me desentendia
vi que ela não tinha piedade. quase que cavo
a cova que vou me guardar pensando no passado qualquer dia.

..e enquanto a mente voa,
idéias mirabolantes surgem à toa.
me apresso pra, da história ou desses dias, chegar o fim.

Ao lado da rosa, o vermelho me destoa.
tento levar o barco cortando o vento de proa
enquanto percebo que tenho vergonha de mim.


(Guilherme Reis Holanda)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

2010.1

.
.
quero o silêncio e o escuro do meu quarto
pra da vida sentir o simples, o sensato
morrer de infarto de tão farto
de amar e amar!
admirar o errado que convém,
ser mais de mim pra ser mais de alguém,
fugir da história de esperar um trem
e o trem nunca chegar!
assim, auto-afirmo que sinto até de tudo
e não fico cego, surdo e mudo
pras mazelas desse mundo
esperando o sino badalar.
mas preciso de um tempo pra cuidar de mim.
pensando bem, quem sabe assim
no futuro que vem lá pro fim
mais coisas farei pra ajudar.

..e a mulher que amo, que me ame como eu,
pois sem isso, nao sustento o que a vida me dá e me deu.
me sentiria acorrentado como Prometeu
pra no rochedo da eternidade sofrer por esperar
e esperar
e esperar..


(Guilherme Reis Holanda)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Catarse

.
.
pego os meus cabelos,
os puxo. dane-se o estrago que faça!
com expressão de desespero
me sinto arrancando uma carapaça.
esqueço e deformo por um instante a idéia de vaidade que tive um dia.
lagrimas retorcidas descem a minha face.
tento fazer da escrita uma catarse
pra me libertar das infindáveis dores que sinto nessa noite fria.

me lembro do que fiz..
sou banal. um escrúpulo.
arquitectei, construí, sepultei um sentimento em, de mármore, um túmulo.

ácida corrosão me trás tal dor!
eu, pensando que sabia tanto do amor,
fiz essa rima idiota.

agora, meus desencantadíssimos sonhos, como um todo, são reais.
sinto como a vida leva e trás
a morte pra bater em nossa porta..

bato no peito
apesar de ficar sem ar.
olho por cima
apesar de nada enxergar.
respiro com vontade
apesar de nenhum cheiro aproveitar.
reconheço que isso é o futuro..

caminho nesse vão do nada mais
e nao esqueço do que vem por trás:
são as lembranças projetadas no vazio do escuro.


(Guilherme Reis Holanda)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Uma noite no Hospital

.
.
A rotira era cansativa.
Os dias começavam cedo,
As noites acabavam tarde.
Não nos perguntavam se queriamos acordar
Ou se estavamos prontos para dormir.
A luz se acendia e apagava de acordo com o interesse dos superiores.

Era nessa embarcação que eu me encontrava.
Marinheiros enfermeiros e comandantes médicos transitavam.
Alguns de boa vontade, outros sem rumo.
Enquanto isso a tripulação flutuava no mar de lágrimas dos mortais.
Esses se ajudavam para sobreviver.

Alguns vinham,
enchiam o ar de penosos gritos
e partiam antes da hora,
Deixando suspeitosas almas inacabadas.
Outros davam a sorte de atravessar as tormentas...

E a embarcação navegava sobre (ou sob) este fragoroso mar!
Buscava incansavelmente por uma única especiaria,
A qual se encontrava no mundo inteiro,
E, apesar disso, era extremamente rara.
Especiaria esta que não cabia numa bolsa,
Não cabia num cofre,
Não cabia em um corpo..

Este barco sem vela e à deriva procurava a vida!


(Guilherme Reis Holanda)

quinta-feira, 4 de março de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Último dia

.
.
Imaginei o que escrever na minha lápide coreana imaginária:

Momento único.
Aliás, todos são.
Escrevo de qualquer jeito minha estadia por essas terras..

Pensando bem, distancia física não me impressiona!
Afinal, o que é estar do outro lado do planeta pra quem já viajou 18 anos em volta do sol?
Na realidade, o impressionante é o Irreal:
No mundo das idéias eu viajei para outra galáxia. Quem sabe, mais de uma.
Posso ter sentido tudo por aqui, menos descanso.
Vivi uma vida paralela,
Vivi uma vida pesada,
Vivi uma vida temporária.
Agonia semelhante de um cancerígeno..

Eu tenho cura!


(Guilherme Reis Holanda)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

aleatoreamente vivo

.
.
eu rio de tudo que a vida me trás e leva!
não é ingenuidade ou otimismo..
é minha maneira de andar na treva!
é o fluxo do rio de etapas que me carrega,
quem sabe para a beira dum abismo!
não vejo impecilhos como ruindade..

sei que no final de cada corredor há uma pitada de felicidade..
para atravessá-lo, exige calma. mestria.
ver minha perna caminhando é sentimento aberto!
e mesmo depois de tal perfeita ideologia,
me sinto humano, incompleto
com os pés no chão, nao alcanço o teto!
...sei que mudarei de ideia, denovo, um outro dia!

coisa louca!
me escreveram em algum canto?
minha vida, num todo, é tão pouca...
por que pra mim significa tanto?
enquanto vivo nessa bola,
nesse embolo,
nesse nó que me afeta,
danço sapateado sobre as linhas tortas..
ao par dos versos de um esquimó poeta.


(Guilherme Reis Holanda)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Conto desnecessário

.
.

Tinha começado como um dia parecido com os outros, e isso já era motivo para ser diferente. A agitação foi aparecer por volta de dezenove horas e nos ouvidos do menino, que nao previu o acidente ao elaborar seus planos de revolta horas antes, soava cada vez mais intensa a Marcha Eslava de Tchaikovsky de um pequeno rádio indesligável que distanciava dois quarteirões dali.
Era inicio de tarde ainda quando seu rosto se enxaguou. Na casa de sua amante, o menino sonhava com uma pequena pitada de liberdade em sua iniciante vida. Seus pés se prenderam nas injustiças do caminho, e, como cipós ardentes, o arrastaram para dentro de uma alcova fétida e úmida. Enclausurado da mais profunda agonia de não viver, resolveu encarar seu pai e, de uma vez por todas, eliminar as correntes enferrujadas de seus punhos e tornozelos.
Sua amante advertiu.
Entre os dois existia uma transcendência espiritual que levava a compreensão além do amor, mas ele não pode se conter em caminhar para trás. Sabia que era preciso uma atitude decisiva naquele jogo. Os carinhos da moça o prepararam mentalmente para tal feito.

Dezessete horas. Saiu à rua. A sua caminhada infindável até seu apartamento foi atrasada inicialmente pelo encontro com quatro palhaços e um campo de orquideas que na ida não estava ali. Aos poucos as cores foram se transformando em moscas. Ao chegar em casa, o jantar estava posto. Aquela postura de familia normal pulsava ódio em suas veias. Foi então que seu pai novamente abriu o tópico:
- E você, nada quer da vida? Só sabe ficar por aí fazendo esses lixos que você chama de arte?
Seu sangue virou um exército. Seus vasos viraram quartéis. Suas idéias viraram guerra. Retrucou:
-É notável que um primata troglodita que nem você não entenda a essência de viver. Beirando a morte, ainda não descobriste o que é felicidade. Olhe ao seu redor. Essa merda que você chama de família te odeia. Seu fim é previsível: A solidão.
Num impulso quase que magnético, o pai do menino levantou a mão e com um golpe certeiro o jogou no chão. A atmosfera da cozinha era seca, de algum fundo infernal saiam sentimentos que icendiavam a cena com uma luz vermelha e o pequeno rádio berrava canções de morte inaldíveis ao ouvido humano.
Foi então que a biologia mutante junto à organização atomística fizeram seu papel. O menino sentiu um frio na mente e uma infervecencia nos músculos. Seus olhos reviraram para o nada e seu corpo tremeu. Tremeu uma dança sem ritmo. Tremeu o silêncio da música que não tocava, e depois de travessia do corredor eterno da insanidade, percebeu que tal convulsão o tirara as pernas...

Depois de ter sido rejeitada pelo rapaz, agora paralítico, sua amada quebrava o chão de casa valsando a sonata mais triste de Beethoven, que vinha de quatro rádios a dois quarteirões dali. Uma labareda de fogo saiu de sua lareira, chicoteou risos pela casa e acolheu as menina em seus braços transformando-a em cinzas.
Assim, ela pôde deleitar-se no aconchego da lenha carbonizada e repensar na essência dos minerais que nos compõe. Desde sua água corpórea ebulindo ao seus sais pipocando nas chamas, percebeu, finalmente, que carbonos em qualquer estado físico também contêm alma.



(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sonho alado no céu coreano

.
.
Tive um dia de sonhador!
Maluco que sou, sonhei acordado com um vôo planar..
Tive a sorte de me ver voar
Pelos cantos de onde nao vivi!
Curiosamente, de cima, não era a paisagem que me excitava
E sim um cheiro encomodante que senti por onde eu passava
E, sobre ele, refleti:

Era o cheiro da lembrança!
Lembrança daqueles que chamo de amigo..
Estes sim, me ensinaram a dançar a dança
Da vida! E é neles que contruo meu abrigo..

Mas, não era este o odor que realmente me encomodou ao voar..

Sendo assim, continuei a vasculhar minha mente
E achei um odor que poderia ser o que me chateava..
Era o odor das máquinas e do estaleiro que trabalhava
Num ritmo frenético, massante e insensivelmente.
Cheiro de fumaça. Ferro quente!
Mas também nao era este que me preocupava..

Depois, percebi onde se batiam as ideias do meu mundo..
Pessoas com o seu odor imundo
Se debatiam, epileticas, exalando tal essência pútrida no ar..
Não culpo todas! Há um grupo seleto
Que fazem do resto dejeto
E não percebem seu papel fétido de decompositores do Amar..
Decompositores da compaixão. Da igualdade. Do bem-estar..

E é no meio de toda esta canificina humana que me encontro!
Caí do vôo, desajeitado.. Derrapei, comi terra, fiquei tonto
E nesse mar de amebas flácidas estou preso desde então..
Nessa ira de estética, fortuna, exibicionismo, possessão e consumismo
Existem privilegiados canibais. Outros milhões se afogam no abismo
E num ciclo vicioso impedem os sonhadores de voar com o cheiro da podridão.


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aos meus dias doente

.
.
desconheci o sono dos desesperados
agora sinto a agonia dos carbonizados
enclausurados em chamas vil..

Nesses grilhões de dor acorrentados
Sinto-me no horror dos condenados..
Nesta dor de gente febril..

Sonho e realidade são misturados
Nesses pensamentos por cobras envenenados..
Vi um vulto por aqui. Não sei se mais alguém viu.


(Guilherme Reis Holanda)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Momento Coreano

.
.
ponho as minhas roupas..
uma blusa, duas blusas, um casaco, o cachecol..
abro a porta, travo uma luta num lugar que, mesmo com sol,
o frio é cortante. ando por ruas novas a esmo!

as ansiedades nao sao poucas..
afogar-se em solidão, de positivo há um ponto.
reforçarei a maturidade de um homem que sempre encontro:
reforçarei a personalidade de eu mesmo.


(Guilherme Reis Holanda)

À uma companheira significante e instantânea de vôo

.
.
Lembrarei de ti.
Te penso e te lembro como um bom amigo,
porém, por culpa do destino,
a vida nos deu apenas 10 horas desse companheirismo celestial..

Te guardarei como um frasco de creme,
Portador de um cheiro que me treme,
Mesmo quase vazio...
Pois 30ml é o permitido em vôo internacional.


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pseudo-perdição confortável

.
.
nesse momento nostalgio, sinto bem o cheiro de talco
representando a inocência que tive em um qualquer verão..
agora, me impressiono no modo que manuseio o alcool
e penso exageradamente: virei um beberrão!

mas, quem sabe, de bebê para beberrão
exista até uma tendencia natural..
afinal, são quatro letras, um til, um pouco de entonação
e, de repente, um bom ponto final!

só sei que acredito nesses versos tão intensamente
que até os classificaria como bíblicos versículos!
não sei dizer se o álcool é como alfinetadas na minha mente
ou como uma dúzia de pancadas nos testículos!


(Guilherme Reis Holanda)

Otimismo calculado

.
.
Essa ânsia, esse suspense para onde vou...
Acredito que eu vá aprecisar os mais gostosos ventos de inverno.
Mas tenho medo! Tenho medo de acabar com Rimbaud
E vivenciar algo mais como Uma Estadia no Inferno...


(Guilherme Reis Holanda)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Versos cômicos a um violão tombado!

.
.
minha carne incendiada
nao sei se estou entre fogo ou nevada...
é a febre que vem queimando,
matando.
fazendo meus neuronios dilacerados,
desnaturados.

descobri porque existe essa ardencia:
sinto a dor de um amigo de vivencia
que se tombou,
caiu,
resonou pelo chão..

faço esses versos
inversos,
dispersos,
por uma dor comica.
pela minha desogarnização atômica,
deixei cair o meu violão!


(Guilherme Reis Holanda)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Esferivivencia

.
.
me recordo de ter ouvido ou visto em algum lugar
entre essas tortosas coisas que se esbarra pela vida
que uma esfera seria a forma estrutural perfeita na natureza...

e, depois de nunca ter levado esta tal afirmação comica à sério,
hoje, ao topar com meia dúzia ou menos de bolinhas de gude pela rua
sua esfericidade me fez dar uma olhada no espelho:
dedos, braços, musculos, pernas... homens não são bolhas,
mas talvez devessemos ser na alma
e nos comportar como tais:

sejamos uma bolha de sabão: elas trazem o unico estouro que não ofende. alegra.
sejamos como os astros: habitemos dentro de nós todas as vidas. alguns aquecendo,
vezes girando, não nos perdendo e nos admirando entre si.
e, até mesmo, sejamos como as bolinhas de gude:
tendo a certeza de que cada batida entre uma e outra
não passa de uma brincadeira para nos trazer a mais pura felicidade de criança.


(Guilherme Reis Holanda)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Surpreendência

.
.
Como em outros momentos passados, nunca desejei fazer deste blog um lugar se não um armazém de minhas poesias.
Porém, há acontecimentos no dia-a-dia que são merecedores de serem comentados, propagados e lidos por todos.

Tinha acabado de sair da casa de uma amiga. Esta estava extremamente preocupada pela minha andança noturna.
Eu caminhava por ruas traiçoeiras e desertas após ouvir alguns barulhos de fuzis, dominado pela escuridão do medo e com o desejo insaciável de se chegar na segurança do meu lar.
Mesmo no meio de toda a aflição, continuei. Caminhei ao encontro do transporte coletivo mais próximo que poderia me levar para perto de casa.
Fatos passados pertubavam minha mente. Lembrei-me do que ocorrera com irmã minha dias atrás em um destes transportes: Um pseudo-sequestro que poderia te-la levado aonde nem os videntes saberiam dizer..
Com todo o meu preconceito defensor misturado ao meu instinto de sobrevivencia, entrei em um transporte nao-autorizado -o que é extremamente comum na região em que moro-, pois estava com pressa e percebi que este estava praticamente lotado, logo, seria dificil alguma tentativa ou chance de assalto.

Ao entrar no tal veículo, me embolou a lingua. Me faltou o ar. Estava na minha frente um motorista que, de acordo com o meu preconceito forçado pelo medo, deveria ser irracionalmente desumano.
Mas, felizmente, esta noite me enganei..
Talvez você, meu leitor, nao conheça, mas acredite no que digo! Estava ele ouvindo no seu toca CD uma obra prima de humanismo. Uma fonte iluminada de sabedoria. Degustando uma raridade nos dias atuais. Ele estava ouvindo o CD The Wall do Pink Floyd.

Ali eu me emocionei.

Logo eu, que andava tão descrente do futuro, afogado na dúvida do amanhã, tive a sensibilidade de me encantar com a qualidade da vida que ainda me faz lutar, que ainda me faz ver um sentido em viver: A surpreendência.
Me surpreendi em ver que tal pessoa, provavelemente pertencente à uma camada social menos favorecia e menos preocupada em se tornar humana, apreciava o sabor de tais musicas que transbordavam aprendizados!

Engoli seco. Pensei 10 vezes: Falo com ele? Não falo? O que falar? Seria ridiculo parabenizá-lo?
Misturado à dúvida, meu coração subia para mil batimentos por milésimo.
Não indentifiquei se esta aceleração cardiaca foi devido ao meu emocional abalado com a situação ou pela sensação de querer puxar assunto com um desconhecido -limitação esta que herdei da sociedade-.

Penso, agora, que foram os dois.

...
Ao descer do transporte, eu disse poucas palavras ao motorista:
-Foi o senhor que botou esse CD para tocar?
-Sim, fui eu sim.
-Deus! Genial. Isto ainda me faz acreditar na mudança do nosso mundo.

E, como se nada tivesse acontecido, ele prosseguiu viagem, e, acredito eu, pensando na encruzilhada que a vida lhe aprontara.
Subi a rua de casa.
Meu corpo não havia parado de se estremecer.
Aos prantos, senti dentro de mim algo que talvez as proximas palavras não descrevam:
Senti a vibração de um rugido ensurdecente de esperança.
Invadiu-me uma fé cega que me faria apostar tudo na mudança do mundo; na mudança da história da vida.

E é nesses dias, que eu vibro de alegria, minha alma se encharca das minhas lagrimas, e deixo uma mensagem que espero que toque a essência de você, meu leitor, que acredita e anseia por dias melhores:
Nunca deixe de acreditar, pois, por mais perdida que pareça a estrada do bosque, até as árvores inertes ainda hão de nos surpreender.


(Guilherme Reis Holanda)