terça-feira, 10 de agosto de 2010

O sabor amargo das frutas doces

.
.
numa bucolica vila do interior
isolada do resto das coisas habituais,
rolava certa tradição estranha.
tradição herdada de ancestrais.

ao amanhecer do quinto dia de um sentimento,
enquanto as arvores dançavam com a musica do vento,
uma moça formosa abriu a porta de sua casa.
estava lá, uma cesta escostada no chão
de morangos. representando a paixão
de um jovem que fervia de amor em brasa.

certo boato já dizia
que aquela velha com a casa vazia
recebera uma podre maçã.
de acordo com a lenda da cidade,
foi pra alertar os moradores da verdade:
há muito tempo que a velha não era sã.

o abacaxi tambem era comum aparecer na porta
sempre seguido de um belo e raivoso grito.
grito dado pelo homem que encontrou a fruta torta
significando que na cidade ninguem o acha bonito!

E assim seguiu a tradição por gerações.
uvas, peras, kiwis e melões
tinham o proposito unico de dar um aviso em especial.
cuidavam-se todos pra nao receberem tal presente.
só quem recebera sabia a frustração que se sente
ao achar uma fruta na entrada do seu quintal.

foi dai que começou a historia realmente:
ninguem sabe quem mandou a fruta naquele dia..
foi deixado na porta do pastor um maracujá com caroço de semente
sinalizando que sua amada reviveria!

estupefato com a tal fruta exibida
o padre sabia que só Deus, o maracujá podia ter enviado
colheu laranjas que representavam a vida
e destribuiu para todos os lados.

o povo sem saber a historia bem contada
ja foi inventando uma desculpa pra isso tudo.
achavam que o padre sinalizara as laranjas da vida
por que planejava ressucitar os mortos pra todo mundo.

O dia da ressurreição tão esperado
só não chegou tão de pressa quanto a noticia que o padre milagres faria.
e depois que a sua mulher havia do tumulo levantado
o povo queria a sua parte da profecia:

"onde está a minha mae viva novamente?" o pobre perguntava
"e os meus filhos?", um outro indagava.
o pastor tentando se explicar, disse que havia distribuido laranjas por alegria.
mas suas palavras haviam sucumbido com os ruidos.
as pessoas já vinham com cacos de vidros
e sua palavra de mais nada valia.

com a mesma intensidade de uma espera de onibus no ponto
os cacos de vidro foram exatamente de encontro
com a existencia do padre e de sua mulher.
os dois foram tão avidrejados
que a unica coisa que sobrou deles, ali parados
foram os calçados rasgados que vestiam no pé.


(Guilherme Reis Holanda)

Um comentário:

Gabriel Holanda disse...

Irmão, pensei em algo muito legal pra comentar, mas só me ocorre dizer que sou seu fã. Parabéns cara.