segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Surpreendência

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Como em outros momentos passados, nunca desejei fazer deste blog um lugar se não um armazém de minhas poesias.
Porém, há acontecimentos no dia-a-dia que são merecedores de serem comentados, propagados e lidos por todos.

Tinha acabado de sair da casa de uma amiga. Esta estava extremamente preocupada pela minha andança noturna.
Eu caminhava por ruas traiçoeiras e desertas após ouvir alguns barulhos de fuzis, dominado pela escuridão do medo e com o desejo insaciável de se chegar na segurança do meu lar.
Mesmo no meio de toda a aflição, continuei. Caminhei ao encontro do transporte coletivo mais próximo que poderia me levar para perto de casa.
Fatos passados pertubavam minha mente. Lembrei-me do que ocorrera com irmã minha dias atrás em um destes transportes: Um pseudo-sequestro que poderia te-la levado aonde nem os videntes saberiam dizer..
Com todo o meu preconceito defensor misturado ao meu instinto de sobrevivencia, entrei em um transporte nao-autorizado -o que é extremamente comum na região em que moro-, pois estava com pressa e percebi que este estava praticamente lotado, logo, seria dificil alguma tentativa ou chance de assalto.

Ao entrar no tal veículo, me embolou a lingua. Me faltou o ar. Estava na minha frente um motorista que, de acordo com o meu preconceito forçado pelo medo, deveria ser irracionalmente desumano.
Mas, felizmente, esta noite me enganei..
Talvez você, meu leitor, nao conheça, mas acredite no que digo! Estava ele ouvindo no seu toca CD uma obra prima de humanismo. Uma fonte iluminada de sabedoria. Degustando uma raridade nos dias atuais. Ele estava ouvindo o CD The Wall do Pink Floyd.

Ali eu me emocionei.

Logo eu, que andava tão descrente do futuro, afogado na dúvida do amanhã, tive a sensibilidade de me encantar com a qualidade da vida que ainda me faz lutar, que ainda me faz ver um sentido em viver: A surpreendência.
Me surpreendi em ver que tal pessoa, provavelemente pertencente à uma camada social menos favorecia e menos preocupada em se tornar humana, apreciava o sabor de tais musicas que transbordavam aprendizados!

Engoli seco. Pensei 10 vezes: Falo com ele? Não falo? O que falar? Seria ridiculo parabenizá-lo?
Misturado à dúvida, meu coração subia para mil batimentos por milésimo.
Não indentifiquei se esta aceleração cardiaca foi devido ao meu emocional abalado com a situação ou pela sensação de querer puxar assunto com um desconhecido -limitação esta que herdei da sociedade-.

Penso, agora, que foram os dois.

...
Ao descer do transporte, eu disse poucas palavras ao motorista:
-Foi o senhor que botou esse CD para tocar?
-Sim, fui eu sim.
-Deus! Genial. Isto ainda me faz acreditar na mudança do nosso mundo.

E, como se nada tivesse acontecido, ele prosseguiu viagem, e, acredito eu, pensando na encruzilhada que a vida lhe aprontara.
Subi a rua de casa.
Meu corpo não havia parado de se estremecer.
Aos prantos, senti dentro de mim algo que talvez as proximas palavras não descrevam:
Senti a vibração de um rugido ensurdecente de esperança.
Invadiu-me uma fé cega que me faria apostar tudo na mudança do mundo; na mudança da história da vida.

E é nesses dias, que eu vibro de alegria, minha alma se encharca das minhas lagrimas, e deixo uma mensagem que espero que toque a essência de você, meu leitor, que acredita e anseia por dias melhores:
Nunca deixe de acreditar, pois, por mais perdida que pareça a estrada do bosque, até as árvores inertes ainda hão de nos surpreender.


(Guilherme Reis Holanda)

3 comentários:

Unknown disse...

emocionante demais cara.

Gabriel Holanda disse...

já me senti assim. lavaste a alma ne? e onde menos esperava. ;-)

Unknown disse...

a esperança nos surpreende .. algum sábio me disse uma vez que ela é a ultima que morre, acho q é verdade